Sejam bem-vindos à era do consumismo desenfreado e do fácil desapego.
Atualmente, a sociedade tende a sobrevalorizar os embrulhos, as aparências, negligenciando,
assim, muitas vezes, o que realmente importa: o conteúdo. Vivemos num mundo
onde quase tudo deve ser fácil, aprazível à primeira vista e supérfluo. O ser
humano está, portanto, cada vez mais distante da sua vertente humana, pois
aprecia os bens materiais e o seu próprio ego em demasia.
O sucesso e o dinheiro devem ser instantâneos hoje em dia. Ninguém quer
perder muito tempo. Poucos são aqueles que têm paciência para se dedicarem de
corpo e alma a algo ou alguém em longo prazo.
O tédio e a monotonia só matam as relações débeis. Aparentemente, ninguém
quer sacrificar-se em prol de algo ou alguém. Infelizmente, as tentações
enlouquecem o ser humano nos momentos de dificuldade ou dor. Poucos resistem.
Tudo aquilo que envolve empenho e dedicação dificilmente sucumbirá ao desgaste do
tempo ou às adversidades.
Sem empenho ou dedicação, jamais existirá mérito ou orgulho genuíno. O amor
e a amizade, entre outros sentimentos nobres como a compaixão e a lealdade,
aparentemente perderam o seu encanto e valor. O egoísmo, os caprichos e a
ganância humana têm vindo a corromper a alma e a mente humana. Tais míseros
sentimentos asfixiam silenciosamente o bom senso e a humildade que todos nós
deveríamos proteger e acarinhar. Estamos a perder o nosso lado mais terno e
belo. Estamos tão distantes uns dos outros mesmo quando estamos tão perto
geograficamente.
A tecnologia quebrou muitas barreiras nas últimas décadas. É um facto!
Contudo, a tecnologia que inicialmente aproximou familiares, amigos e não só,
tende cada vez mais a afastar as pessoas e a promover a solidão. Irónico, não
é? O brilho da ilusão cegou a razão. A tecnologia não deve substituir a antiga
interação humana. Todavia, o brilho e as cores que as máquinas (aparelhos
eletrónicos) possuem, roubaram e continuam a roubar o protagonismo das conversas
autênticas, cara a cara.
Qualquer dia, teremos de reaprender a sociabilizar. As máquinas estão,
assim, a ocupar o lugar das pessoas, isto é, comunicamos, na verdade, com as
máquinas em vez de falarmos diretamente com as pessoas.
Perante tantas coisas para fazer ou ver, o ser humano está perigosamente
radiante. Num mundo com tanto para oferecer graças às novas tecnologias, e não
só, o ser humano acaba por não apreciar verdadeiramente quase nada. O fascínio
que sente por algo, nasce e morre num instante. Essa é a realidade. Nada nem
ninguém é verdadeiramente apreciado hoje em dia...
Felizmente, ainda existem poucas, mas valiosas pessoas que não fazem parte
deste rebanho enfermo. Todos nós deveríamos amar as pessoas e não os objetos!
A beleza interna não envelhece, apenas engrandece aqueles que a têm. Por
outro lado, a beleza externa que nos cativa facilmente perde todo o seu encanto
quando lá dentro desse corpo não existe mais nada de interessante ou empolgante.
O tempo revela a autenticidade das pessoas e mantém nas nossas vidas
aquelas que realmente importam, aquelas que valorizam ou compreendem o que nós
realmente somos. Jamais um corpo esbelto ou doces palavras poderão cegar ou
calar a razão. Quem vive na sua própria ilusão, sofrerá mais tarde ou mais
cedo. Logo, não devemos negligenciar o que vemos ou ouvimos. Perdemos tempo de
vida e a vida não nos compensa por isso. Devemos, assim, aceitar as pessoas
como elas são. O nosso instinto natural para detetar incongruências e farsas
está, geralmente, certo. Só os atos demonstram verdadeiramente as nossas
convicções, os nossos princípios, o que sentimos, o que somos. Ninguém consegue
representar o que não é por muito tempo.
Quanto mais conheço as pessoas, mais me apaixono pelos animais. A genuinidade dos animais e a cooperação entre algumas espécies são invejáveis. Estaremos numa fase de transição na qual a raça humana está a perder o seu lado humano? É uma questão pertinente.
Nélson José Ponte Rodrigues
11-10-2014
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