As palavras magoam ou encorajam, aproximam ou afastam, enaltecem ou esmorecem, embelezam ou apodrecem.
As palavras tornam-se facilmente banais ou vazias. A razão é simples. Todos querem defender com unhas e dentes a suas "verdades", os seus pontos de vista, os seus interesses. Muitos defendem que a sinceridade resolve tudo, sendo a cura para os desentendimentos, entre outras maleitas. Errado! A sinceridade é, para alguns, a defesa perfeita, a prova irrefutável da sua superioridade, a verdade nua e crua que creem estar do seu lado, a voz de um ego inflamado que já não fala calmamente, grita. Acusar é tão simples. Falar é fácil. Comunicar, no entanto, é difícil. Poucos discutem sem magoar ou denegrir.
Certas coisas nunca
poderão ser ditas, devem ser sentidas ou ilustradas sem nomes ou autores. A
autêntica sinceridade é delicada, não é bruta nem mordaz. Apazigua, não condena
nem fere. E a verdade?
A verdade é óbvia e
inquestionável. A maioria sabe que esta representa o arqui-inimigo da mentira.
Não pode ser contrariada nem negada. E os argumentos que a suportam tornam-na
imbatível. Até essa parte, estamos quase todos de acordo. Certo? Por outro
lado, é nessa sequência de palavras orquestradas, vulgo o discurso, que podemos
atestar a inteligência emocional do outro. Todos querem ser donos da verdade e
alguns até adoram exibir a sua frontalidade, por vezes, nefasta, despropositada
e até incoerente. No entanto, a verdade que muitos recusam ver ou aceitar é,
muitas vezes, uma mera versão da história, uma impressão fidedigna ou não da
realidade. Para cada situação, só existe uma verdade. Existem várias versões. Sim!
Mesmo assim, a verdade permanece inalterável e solitária. Só existe uma
verdade. Claro! É inútil contrariar os factos. É uma perda de tempo e um ato
incontornável de estupidez ou tolice.
A verdade representa um
trunfo, não confere nenhum título ou vitória logo à partida. Sábio aquele que a
usa com sagacidade e delicadeza. Esse porta-voz do bom-senso ou justiça é, por
si só, um ser excecional, quase raro: um senhor das palavras.
Tantos cospem a verdade
na cara do outro, perdendo, assim, muito mais do que imaginam. A verdade não
torna o seu detentor mais popular, inteligente ou bonito. Muitos abusam da
verdade, exploram-na. A verdade não requer manutenção. Deve ser usada com
cautela e perspicácia. Tudo exige um bom peso e medida.
Aquele que a conhece, de
verdade, não procura protagonismo, pretende esclarecer, elucidar; procura justiça.
A verdade é isto. E o resto? Ela fragiliza, arrefece tudo o resto. Nem sempre
traz paz e calmaria. Traz justiça.
A verdade pode ser um sumo
translúcido que rejuvenesce e fortalece as relações humanas quando este é dado
em pequenas quantidades. Caso contrário, escurece e transforma-se em veneno.
Torna-se fatal. O segredo está na dosagem administrada. Logo, a verdade sem
consciência ou filtros não te torna num herói ou heroína. A vida não é assim
tão linear e radical. Entende isto depressa, antes que só tenhas a razão do teu
lado.
Quem persegue a verdade,
muitas vezes depara-se com a solidão ou com a incompreensão dos outros que o
rodeiam. A verdade incomoda muitos. Deixa cicatrizes que não sangram, ardem por
dentro. Aparentemente, ninguém a quer sem anestesia. Quase todos a procuram,
mas quando a finalmente encontram, abandonam-na. Sim, a verdade é, por vezes,
dolorosa. A verdade é tantas vezes incompatível com a realidade desejada. Por
essa e outras razões, a mentira continua a ser tão apreciada. A mentira é, por
outras palavras, a “verdade” mais agradável e conveniente.
O ser humano é um mentiroso compulsivo. Cria “verdades” para assegurar a sua felicidade ou bem-estar. Porquê? Assim, a sua vida é bem mais adocicada. Ao longo de gerações, a mentira sempre cativou multidões. Onde há humanos, há mentiras.
Nelson José Ponte Rodrigues
10-09-2016
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