Por vezes, nem as palavras conseguem explicar o que
sentimos. Assim, são as efémeras e insanas paixões e as grandes e inesperadas
desilusões. Quando o vazio engole algo que outrora foi tão especial, perde-se a
magia, a admiração, a cumplicidade. Surge, então, a impiedosa mágoa, uma
cicatriz que tatua a nossa alma sem consentimento nem aprovação. Cura-se a
tristeza, a ira e a frustração, não a mágoa e a deceção. Não, nem tudo vale a
pena. Ainda não aprendeste? A mágoa é a pior inimiga daqueles que um dia foram
inseparáveis.
Nunca desvalorizes ou arrumes numa gaveta quem um dia
já foi o teu mundo, o teu todo, a tua melhor companhia, o teu cúmplice favorito,
com quem já choraste e riste inúmeras vezes... E agora? Qual é o meu papel preponderante
na tua vida? Rigorosamente nenhum. Só uma distante memória.
A peça continua, e eu continuo no banco, bem longe da
cortina e do palco onde atuas. Já o partilhámos. Já fomos tão felizes.
Lembras-te? Nunca fui o ator principal, eu sei. Outrora, pelo menos, tive um
papel secundário, quase principal. E agora? Fui afastado da peça sem aplausos
nem agradecimentos ou prévia notificação. A vida nem sempre é justa, mas pensei
que tu fosses.
O tempo aquece ou arrefece as relações. Ausências não
fortalecem, enfraquecem. Havia tanto em comum, partilhámos tanto. E agora? Tu
escolheste outro uma outra vez. Prefiro, desta vez, sair de cena, redescobrir a
minha dignidade.
O teu tempo só aquece quem está do teu lado. Não ouses
partilhar comigo as tuas tristezas, inseguranças ou fracassos se um dia me excluíste
das tuas aparentes glórias. Nem uns meros minutos do teu tempo me entregaste.
Fui arrastado para bem longe. Receio, agora, não sentir a tua ausência
futuramente.
Antes do adeus definitivo, já oiço um longo silêncio. E depois? Um interminável inverno.
Nem tudo tem perdão ou merece compreensão. Ainda me recordo da tua promessa: "nunca te abandonarei, envelheceremos bem perto um do outro." Terás mentido ou bebido de mais nessa noite?! Não culpo quem te roubou de mim, acuso quem já recebeu o melhor de mim.
As verdadeiras conquistas demoram meses, anos,
décadas... Tudo o resto é puro engodo ou ilusão. Eu perdi-te em poucos dias,
tornei-me acessório, pouco relevante, obsoleto, uma antiga memória. Nunca
prescindimos de quem verdadeiramente gostamos ou amamos. Essa é a única
verdade. Só a morte, a vontade humana e a desilusão são capazes de separar duas
pessoas que outrora foram inseparáveis.
Respeito as escolhas de quem já amei ou adorei, mas
acima de tudo, respeito-me e valorizo o meu tempo e dedicação. Não mereço nem
quero papéis secundários ou provisórios ou ainda prémios de consolação.
Quem me dá tudo de si, terá tudo de mim. Contudo, após
cada desilusão, sinto-me cada vez mais longe do homem gentil, romântico e
ingénuo que um dia fui. Obrigado. Afinal, não és tão surpreendente e original
quanto eu esperava. Julguei-te diferente, especial. Constato que me precipitei...
uma vez mais.
A deceção não mata, mas deixa marcas. Lamento,
pois ainda sinto algo. Amanhã, sentirei muito menos.
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