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Escrever é muito mais do que uma mera paixão, é uma parte de mim!
Na poesia, os pensamentos, as ideias e as emoções ganham vida própria, deixam de ser uma parte do autor e rompem a fronteira do "eu" , abraçando, assim, outras realidades, outras vidas.
Nélson J. Ponte Rodrigues

sábado, 6 de setembro de 2014

Cara Submissão!


Jornalista: Luís Pessoa não aguentava mais a precariedade do seu país. Aquele que supostamente o deveria respeitar e apoiar, extorquiu não só o seu dinheiro e dignidade, mas também a sua esperança. A vida perdeu todo o seu sentido quando os seus sonhos lhe foram, impudicamente, arrancados. Desolado e amargurado, partiu de madrugada para um outro país. Contudo, antes de partir, escreveu uma carta cujo intuito era despertar mentes e corpos moribundos. Não queria, portanto, abandonar o seu país em vão... Nessa carta que enviou para um jornal local, descreveu o que há muito tempo estava entalado na sua garganta.

 

        “Caros irmãos, não aguento mais! O Sol deixou de brilhar na minha vida…. Embora tenha tentado manter a calma e o otimismo, não resisti. Decidi partir. Todos os homens têm o seu limite! Eu já atingi o meu. Não sou cobarde nem fraco. Sou realista e bastante sensato. Vejo, todos os dias, um povo que é, constantemente, assaltado e ludibriado.

Este governo que nos domina, já não nos representa, sufoca-nos. Não somos cidadãos, somos meros contribuintes que enchem os cofres do Estado. Só servimos para isso: pagar.

            Após tantos sacrifícios, só vejo escuridão. Neste infindável abismo, um autêntico beco sem saída, temo um novo amanhecer. Conheço, infelizmente, o lema da pobreza: “Não vivo hoje para viver amanhã.” Por outras palavras, temia não ter dinheiro suficiente para pagar as minhas contas no dia seguinte. Vivia numa interminável inquietação. O nosso “amável” governo exige tanto de nós, mas não nos dá condições para cumprirmos com as nossas obrigações. A definição de democracia, neste país, perdeu o seu significado original. Qualquer dia, democracia e tirania serão palavras sinónimas.

O povo que alimenta o próprio carrasco é algo que jamais entenderei. Muitos vivem “bem” mergulhados num desconforto e ansiedade incessantes. Eu não. Recuso-me a desistir dos meus sonhos. São eles que me mantêm vivo e mentalmente são.

Vivemos numa sociedade decadente e ignorante, que até prescinde da sua própria felicidade, pois prefere permanecer na sua zona de conforto, muito embora essa seja desconfortável. Vivem insatisfeitos, rezingões e frustrados, mas, mesmo assim não reivindicam a sua própria felicidade.

            Não abandonei o meu país… Eu fui abandonado pelo meu país. Eu não me sinto um cidadão no meu próprio país. Sou um mero instrumento, um número, um escravo. Trabalhamos tanto e só conseguimos juntar dinheiro para comer, pagar as contas do dia a dia, e impostos. Essa é a nossa triste realidade. Eu não quero, simplesmente, sobreviver, eu quero e mereço viver.

            O António, esse meu grande amigo, e a sua família sobrevivem na rua. Tinham tanto. Perderam tudo! A vida tem destas coisas. Não podemos tomar nada por garantido, definitivamente. Este governo ajuda somente os grandes, os cúmplices. Existem dois pesos e duas medidas. Os senhores deste país que, na verdade, não o são, usam e abusam do seu poder. Roubam, por vezes, de forma escandalosa, os próprios vassalos e esses continuam fiéis ao tirano que lhes rouba o pão. Nós comemos as migalhas. Eles comem a fornada inteira. Enquanto uns se banqueteiam, outros contam tostões, ou vivem na miséria.

            Todos nós sabemos, eu creio, que o nosso “desgoverno” tem um único culpado: Nós! Aqueles que elegemos são os nossos representantes. Onde está o espírito patriota do nosso país? Não o vejo. Vivemos numa sociedade corrupta e amoral. E ninguém faz nada! Os lesados permanecem numa masmorra condescendentemente.

Os nossos governantes tratam-nos como escravos. Na realidade, nós somos os culpados. Quando não somos respeitados, perdemos a nossa dignidade e amor-próprio. Não devemos tolerar isto. Quem cala, consente! Certo? É revoltante, nojento e humilhante o estilo de vida que, supostamente, temos de aceitar no nosso amado país: sem metas, sem ambição, sem reconhecimento.

Acredito que muitos de nós tenham ambição, mas, infelizmente, não têm condições, principalmente, financeiras para alcançar e agarrar quaisquer metas.

Vivemos num país cujo governo apela à honestidade, lealdade e ao compromisso. Contudo, age de modo contraditório muitas vezes…demasiadas.

O governo está contaminado. Todos nós sabemos o que devemos e podemos fazer. Ninguém faz nada! É incrível! Manifestações sem fulgor são motivo de chacota entre os grandes. Somos os bobos da corte. É ultrajante!

            Não consigo fazer parte desta tripulação que rema numa direção, enquanto o capitão, conscientemente, rema noutra completamente oposta. Esse capitão só tem em consideração os seus próprios caprichos e vontades que se encontram no alto mar. Os tripulantes deste barco sabem à partida que jamais chegarão a terra firme, mas mesmo assim continuam a remar em vão. Assim é o nosso país! Enquanto uns colhem as maçãs, outros comem-nas.

Devemos ser bons e honestos, nunca parvos e " palhaços".

Afinal de contas, não somos cidadãos, somos escravos. Está na hora de enfrentar a realidade. Temos agido como "cordeiros". Seguimos as ordens de um lobo mau disfarçado de pastor. Nós sabemos que estamos a ser enganados e, mesmo assim, não fazemos nada. Não agimos em prol do nosso bem-estar. É um ato de extrema cobardia e demência.

            Devemos sempre lutar contra o que nos faz mal e zelar pelo nosso bem-estar. A vida, por vezes, é tão simples! Se estamos mal, temos de procurar uma solução. É imperativo erradicar o que gera esse mal-estar.  A inércia, o ingrato comodismo e a preguiça intelectual prejudicam sempre a nossa felicidade: o nosso bem-estar, a nossa tranquilidade. Sem ação, principalmente, nos momentos de dificuldade ou angústia, nada mudará. Milagres acontecem quando agimos.

Quando pagamos algo, desejamos e pretendemos ser bem-servidos, principalmente, quando o serviço é dispendioso e, supostamente, teria uma elevadíssima qualidade. Certo? Pagarias um determinado serviço se soubesses à partida que serias mal servido?

Em poucas palavras, consigo descrever este e outros governos que têm vindo a assombrar a nossa existência: sacrifícios, promessas vazias, descontentamento contínuo, corrupção, miséria. Qualquer dia, os senhores do nosso país venderão o nosso país.

Perante tanta hipocrisia, desleixo e sacanagem, acredito que os nossos governantes façam de tudo em nome da ganância e do seu bem-estar.

A honestidade é uma qualidade que está em desuso. Aparentemente, tudo tem um preço.... Tudo! Alguns preferem um bolso cheio a qualquer custo. A honestidade é, assim, facilmente desvalorizada. Vale tudo! Cada um por si! Uns roubam enquanto outros assistem.

            Não há união. Não há um objetivo comum nesta nação. Assim, estaremos condenados.

Estejam atentos ao que se passa. Questionem a realidade. Não permaneçam apáticos! Não percam a vossa voz! Não engulam afirmações ou respostas incoerentes. Procurem sempre a verdade.

            Eu vou partir com o coração partido. Desiludido com a minha própria nação, espero um dia regressar. Até breve!” - Luís Pessoa <10-06-2014>

 

Jornalista: Destroçado, Luís partiu. Desde então, nada mudou. A carta foi publicada e, inicialmente, causou alguma polémica. Contudo, foi sol de pouca dura. Todos nós sabemos que as polémicas que envolvem o nosso governo sucumbem rapidamente. Após tantos assaltos aos contribuintes e tanta deslealdade, a odisseia continua.

 O governo pode agir de uma forma leviana e incompetente quando lhe apetece. A culpa, essa bastarda, é sempre órfã.

Qual é o desfecho desta história? O contribuinte continua a pagar pelos erros ou luxos do governo e restantes cúmplices. Sim, esta corja prolífera. Até quando viveremos assim!? Depende de todos nós. Todos. A união faz a força, não se esqueçam!

 

"Shame on you if you fool me once. Shame on me if you fool me twice..."

 

Nélson José Ponte Rodrigues

06-08-2014

 

Tratando-se de um texto meramente ficcional, qualquer semelhança com a realidade é uma simples (e inoportuna) coincidência.





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